Enquanto sou novidade





Melhor pararmos por aqui, me manda embora, diz que está cansado e precisa dormir. Mas você prefere continuar borrando minha  boca de vinho. Olha a esquina é ali perto, tem um ponto de ônibus e ainda ta cedo, não tem problema. Mas você prefere tocar a ponta do nariz na minha nuca conferindo assim meu cheiro. Seria mais fácil eu também inventar uma desculpa, se seu coração não batesse tanto, me permitindo assim contar o pulsar mesmo que acelerado. Agora seu nariz virou língua e sinto beijos tímidos, leves, molhados querendo percorrer meu corpo.

Sei lá, inventa uma briga na família, um parente que morreu, me diz que pego o primeiro voo de volta pra minha vida de antes. Só para de me olhar assim, penetrando a pele,  me deixando assim na carne viva. Eu quero ir embora enquanto seu respirar é sinfonia aos meus ouvidos, enquanto meu beijo ainda é novidade. Você me segura então em um abraço, e eu não sei como lidar. Eu não quero você odiando minhas manias, minhas urgências, meu silêncio. Vou partir, enquanto teu sorriso ainda não virou lembrança, vou seguindo enquanto tem você e o travesseiro e a gente sendo um só, em um mundo onde a maioria das pessoas não suportam nem a própria presença.

Olha, já ta ficando tarde, liga pra aquele táxi de confiança que fico pronta em cinco minutos, me desmontando do seu cheiro e de mim. Eu não quero você se irritando com a briga que ainda nem tivemos, não posso suportar você chateado comigo. Melhor esquecer enquanto ainda posso te esperar sorridente no sofá, no chuveiro, melhor parar enquanto que aquela música que você indicou não me machuca. Mas você resolve sorrir, não sinto o chão, só posso te admirar enquanto você fala sem parar. Melhor eu ir enquanto te amar não dói, enquanto, enquanto que tudo que eu mais quero é ficar com você. Não ter a chance dessa possibilidade me mataria.

Melhor eu ir embora.

Elen Abreu




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