Eu vou fugir

Olha só, ele me ama, e eu usando calcinha bege e correndo de patins.
Engraçado, como eu sempre encontro uma forma de fugir.

É que se eu souber que sou amável pra alguém, eu começo achar que eu posso ter quem eu quiser. Nunca tenho, machuca. É porque se eu achar que ele sonha comigo, acho que o fulaninho que eu quiser também pode sonhar. Nunca sonha, esgota. É  porque se eu achar que ele faz carinho muito bem, acho que o outro lá pode ter mãos de ouro. Nunca tem, carência. É porque se eu achar que ele fala da boca pra fora, acho que o outro fala pra dentro de mim. Nunca fala, cala. 

O problema é, que se eu amar alguém acho que não consigo viver sem. Pássaros em gaiolas nunca me fizeram bem. Então eu vou fugir, de calcinha bege e patins, pra ninguém reparar em mim, pra andar rápido. É que sempre digo que não vou amar, que amar dá trabalho, que as passagens da fuga já estão compradas, que tenho um esconderijo. Mas no fim, não passo de uma pássaro na gaiola planejando a fuga, eu digo que não vou amar. Sempre, amo.

Elen Abreu